terça-feira, 3 de julho de 2007

conversas de café

Já a vi de lágrima no canto do olho, era domingo, estava no escritório, ao telefone com o marido que lhe contava que a filha dera os primeiros passos.

Chorava porquê?

Queria estar em casa?
Queria estar ali?
Queria tudo?
Queria sentir-se melhor, por não estar onde devia?
Queria que o marido olhasse com surpresa e a mesma excitação que expressava naquele momento para os segundos passos da petiz, quando esta os desse à sua frente?
Queria menos verdade e mais compaixão?
Porquê num domingo?

Para que ela pudesse lá estar.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Catch-22

Na sequência de um mail que recebi da Ordem dos Advogados a fazer publicidade ao seguinte curso:

Gestão do Stress e do Tempo
Orador: Dr. Jorge Amorim
Data , Horário:Dias 17, 18 e 19 de Julho de 2007 das 18,30 às 20,30
Taxa de inscrição: 121,00€ - Por participante

, pergunto-me se a principal lição que os participantes retirarão não será a de que, no planeamento e gestão do seu tempo, não deveriam ter perdido tempo neste curso.

O próximo curso da Ordem será "Aprenda onde deve gastar o seu dinheiro", também com taxa de inscrição a €121,00.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Nem tudo é hostil

Li algures na blogosfera alguém que tentou resumir numa só regra o seu imperativo moral, tendo chegado a qualquer coisa como: "não faças nada que envergonhe os teus filhos".

Fiquei a pensar, e porque acho que ninguém que não tenha filhos se revê a cem por cento nesta norma, qual seria o meu. Hoje especialmente, quando a questão já se colocou com tanta acuidade em momentos diversos do dia. E cheguei a um. Pode não ser nada de especial, pode não ser original, pode ser apenas uma escrita diferente de uma regra básica (é): "o meu semelhante sou eu e só através dele conhecerei algo maior".

ps: não vale para masoquistas.

Destrocar

Acho ridículo as pessoas que acenam com o título académico de licenciado, os dentes brancos a contrastar com a negritude do espírito e o berço invísivel, e depois proferem várias vezes: destrocar, destrocar, destrocar.

"Já venho, tenho de destrocar dinheiro".

Perfeitas burras, perfeitas burras, perfeitas burras.

domingo, 6 de maio de 2007

Achamento de tesouro

Não raras vezes durante as aulas de Direitos Reais pensei que o que ali aprendíamos apenas serviria para material de comédia. Éramos meninos da cidade no despontar do século xxi e estávamos a aprender o que fazer com animais ferozes e maléficos evadidos da sua clausura, o que acontecia se a corrente de um leito mudasse de direcção e a quem pertencia a maçã que caísse de uma árvore de um tipo e rolasse para o terreno do vizinho. Porra, pensava eu, ensinem isto aos gajos da GNR que têm de lidar com o Portugal em que ainda se espeta uma enxada na barriga do vizinho por uma questão de águas ou marcos.
Eis senão quando surge a bofetada de luva branca do Professor Pinto Duarte.
Tenho um exame de abelhas colado à parede do meu prédio aqui em Lisboa e ninguém sabe o que fazer. Estou-me só a vestir para ir ali a baixo resolver o assunto e dizer aos bombeiros (que já devem estar prestes a mandar uma mangueirada no enxame ou outra paródia parecida) que se o proprietário da colmeia não perseguir o enxame logo que saiba terem as abelhas enxameado, ou se decorrerem dois dias sem que o enxame tenha sido capturado, pode ocupá-lo o proprietário do prédio onde ele se encontre ou consentir que outrem o ocupe (presumo que seja preciso uma deliberação do condomínio mas ainda vou procurar jurisprudência sobre o assunto).


P.S. Senhores do grupo PT, se eu descubro que esta merda tem que ver com as radiações das antenas de telemóvel espalhadas por todo o lado vendo as minhas acções vocês sabem a quem (sim, rima com tó nai)

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Lucky Me

Há não muito tempo atrás, diligências era sinónimo disto:

Hoje em dia, o significado é completamente diferente. E, a estas horas, não acredito em homens mais rápidos que a sua própria sombra.


quarta-feira, 2 de maio de 2007

Sobre a condição feminina II



"Bitches ain't shit but hoes and tricks"
Dr. Dre

terça-feira, 24 de abril de 2007

Sobre a condição feminina

As mulheres são seres complexos que habitam este pequeno mundo. Não, minto. São os seres mais complexados que aqui andam. Se a palavra “Juíza” não existisse, e o feminino de “Juiz” fosse simplesmente “Juiz”. Se para me referir a uma Juiz fêmea, devêssemos dizer “a Juiz”. Nesse caso, teria dificuldades em perceber porque que não assistiríamos a manifestações de rua e mobilizações em massa pelo devido feminino. Eu própria estaria na rua batendo-me pelo meu direito a chamar e ser chamada de “Juíza” (fora-o eu). Mas a palavra, felizmente, existe. “Juíza”, “JUÍZA”, a feminina fêmea que aplica a lei, la bouche qui prononce les paroles de la loi. Assim, porquê? Por que alma penada veraneando no purgatório é que cada vez que se envia uma peça processual dirigida à Exma. Senhora Juíza de Direito, a mesma corrige a dita, com o atrevido lápis razorando o assento e cortando a letra definidora do seu e do meu género?

A verdade é que se tornou sinal de complexo de inferioridade uma mulher fazer referência a qualquer desigualdade ou reivindicar qualquer diferenciação positiva em prol da igualdade. A verdade é que o novo discurso da mulher descomplexada que vence no mundo dos homens sem aceitar nem sequer admitir sem conceder que a desigualdade possa existir, admitindo cortesias que de subjugantes passaram a gentilezas que condescentemente se toleram e, por ventura, exigem, nos transformou em perfeitas complexadas.

Nada de exageros. A mulher des(complexada) sabe nada lhe estará vedado por conta do A. Ainda assim, deveria, pelo menos, admitir que o A lhe pode tornar a vida um nadinha mais difícil e interrogar-se porque é que na faculdade integrava uma estatística 85% e no escritório (na base da cadeia alimentar) integra uma de 60%; porque é que, se chegar ao topo, a estatística que a englobará será de 20%.

JUÍZA


s. f.,

mulher que dirige certas festividades de igrejas;
mulher que desempenha as funções de juiz.


Em http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx

A Toga

Pela primeira vez - depois de ter estado numa audiência de julgamento a representar um arguido no âmbito de nomeação oficiosa pela Ordem dos Advogados onde era a única que não envergava tão sublime vestimenta, facto que me valeu os olhares de alto a baixo e comentários inaudíveis da Juíza (sim, JuízA) e da ilustríssima representante do Ministério Público e seus dois neurónios - resolvi envergar A Toga.

Coloco-a sobre os ombros e imediatamente começo a sobrevalorizar as minhas capacidades.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Dia mau

Por engano, apanho o metro na direcção contrária. Por uma fracção de segundo pensei em deixar-me ir.

Dia de S. Receber

Desde Setembro de 2005 que o dia 23 de cada mês assumiu uma importância singular na minha vida. No início de cada dia 23, oiço as vozes dos Xutos e Pontapé a assegurarem-me que é dia de São Receber.
O dia 23 de Abril de 2007 conseguiu juntar os Xutos e os anjinhos a cantar o Aleluia; finalmente, aos poucos, reconhecem-nos o esforço e retribuem, como sabem, é claro, e com os recursos parcos de que dispõem, o nosso pequeno contributo.

Mas a coisa não fica aqui. Num qualquer dia deste mês, outro evento vai ocorrer; i´m pretty sure.
Isto é, Ela que, segundo consta, já ligou para todas as fontes a perceber a diferença de valores, vai devolver-nos, aos 9, a diferença.

Tenho a certeza de que uma mulher, digna, não cínica, atenciosa, amiga e companheira, cederá perante estes/ os seus próprios valores (bancários). Esta mesma, que por aqui reside profissionalmente pelo bom nome da Casa, e unicamente por isso, sentir-se-á imbuida de um sopro e devolverá a materialidade que a sustenta; leia-se dinheiro.

Afinal, em abono da verdade, Ela nem o merece.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Veneno de ratos

Isto parece-me importante.
Há uma pessoa que eu não adoro, não adoro porque ela não tem bom fundo, tem um sorriso duvidoso e não tem ponta de dó e piedade das figuras patéticas com que, diariamente, nos brinda.
Não foi preciso a minha Mãe ou a minha Avó aconselharem-me, para eu saber que não tenho de gostar de tudo o que tem duas pernas e imita, incessantemente, o macacão do sapiens.
Com esta pessoa já mantive as conversas mais estupidificantes da minha vida, já lhe vi o indicador apontado em riste na minha direcção, ameaças explícitas e sorrisos cínicos.
Eu, por mim, não sou mulher de me calar, gozo do dom da palavra, na medida em que preciso dela para respirar; nem que seja para respirar em ares sujos e pesados pelo oxigénio mastigado por demais criaturas que se ocupam dos outros, numa de "deixa-me lixar-te, lixar-te, lixar-te."
Ontem, aconteceu-me um dos momentos mais dignificantes, e ao mesmo tempo mais estúpidos da minha respiração. Eu passei por essa pessoa, pela segunda vez naquele dia, já depois de um bate-boca matinal agradável, ela interpelou-me com provocações não muito intelectualizadas - mas a quem tem pouca energia intelectual não se pode pedir mais - e eu respondi-lhe: "Cuidado contigo porque como estás a comer pastilha, ainda trincas a própria língua e morres com o teu veneno. Cuidado".
Ela, agora, diz que eu quero que ela morra.
Adoro quando esta gente admite a sua própria estupidez e maldade. Pobre do homem que lhe anda a dar beijinhos na boca; olha-se ao espelho e tem a boca roxa de veneno para os ratos.

Pérolas


- You were going to be a gymnast.

- A journalist.

- Right, that's what I said.

Saídas que diminuem consideravelmente as suas hipóteses

Estás cada vez mais parecida com a minha mãe.

Gestão de um capital de aprovação

Manter o outro viciado, sedento, dependente de aprovação. Bem feitas as coisas e a potencial valorização deste activo é imensa: quero que castigar-te, quero que sofras – digo-te que me desiludiste; quero agradar-te sem qualquer fim altruísta, apenas para me sentir bem ou conseguir algo de ti – digo-te exactamente aquilo que queres ouvir. Que faço com muito do primeiro e um pouco do segundo? Mantenho-me dependente.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Google Talk

vou lançar um "call for brides"
com CV e "personal statement"
também pensei em pedir cartas de recomendação...

mas essas necessariamente teriam de vir de relações fracassadas (o que não faria mto sentido)

"Assumo que oficialmente beijei mais do que uma senhora"

Macário Correia deu uma pequena entrevista que acaba por se traduzir num pequeno manual sobre como ganhar um lugar no céu:
- tirar dois cursos ao mesmo tempo e fazer um mestrado em França
- trabalhar 17 horas por dia
- ir buscar a correspondência da Câmara aos Correios
- ir de bicicleta buscar a correspondência da Câmara aos Correios
- exercer 15 cargos não remunerados
- ter uma "pequena agricultura"
- saber escrever com cabos de enxadas
- praticar marcha, cicloturismo e btt
- dizer frases parvas como "comprei uma vez um maço de cigarros, quando tinha 14 anos. Não o acabei e ainda hoje não consigo perceber como é que as pessoas metem na boca e chupam tantas vezes ao dia uma coisa que sabe tão mal" e não se rir a seguir.

terça-feira, 17 de abril de 2007

não está nada azul




Ao que parece, o Jeff Tweedy separou-se da mulher. Péssima notícia para os seus pulmões, óptima para os meus ouvidos. É fácil reconhecer a importância que assume a perda na inspiração dos artistas. Sem querer ir mais longe, soube há pouco tempo que o tipo dos roxette começou a escrever baladas depois de todos os membros da sua antiga banda terem ido para a tropa (a ideia de ler a biografia dos roxette surgiu-me um dia em que testei a possibilidade redigir um livro chamado “1001 coisas para fazer logo a seguir a morrer”, ideia esta que, tal como os discos dos roxette, acabou arrumada no fundo da estante, representando aqui a estante a minha profunda idiotice)Depois do mal amado último álbum – que criou o fantasma da impossibilidade de reproduzir a façanha de fazer o melhor disco de toda a história do meu quarto, o “yankee hotel foxtrot” –, o Jeff resolveu escrever um disco como quem corta os pulsos. E isto é sempre tão bom, ter o privilégio de ser os free riders da sua depressão (desde o brilhante post da Mariana, decidi que, sempre que possa, vou tentar recorrer a conceitos económicos). Começa-nos por dizer “Maybe the sun will shine today” e inicia um balanço que nos faz pensar “este caralho está a tentar convencer quem, aqui cheio de esperanças?” Uns versos à frente já se ouve violinos e um tipo sabe que isto não vai acabar nada bem. O certo é que, depois uma dúzia de músicas a varrer o soul (“side with the seeds”), o country (“sky blue sky”), o rock (“walken”) e a casa (“hate it here”), já está de joelhos a pedir à miúda que volte, que é assim que tem de ser e não sei quê.
É sempre tão bom, quando um país deixa de produzir canhões para produzir o melhor disco do ano (reparem que aqui até consegui martelar uma mensagem política popularucha).


PS: O álbum "sky blue sky" sai no dia 15 de Maio e a melhor forma de comprá-lo é através da music wow
PS2: Já depois de escrever isto, vi, no youtube, meia dúzia de vídeos recentes do Jeff Tweedy, e aparentemente afinal está aí para as curvas. Ainda assim, não vou apagar o post. Desconsiderem o facto deste estar completamente errado e liguem só à mensagem política.

Insólitos na Administração - Over and out

Suponho que insólita mesmo tenha sido a circunstância de o esquecido da 1ª Instância, graças a algum infortúnio do qual nunca tomarei conhecimento, não possuir uma das mãos (a direita). De igual forma, provavelmente, nunca saberei que infortúnio o fez escolher um sinistro gancho de metal em lugar da convencional e literal prótese.