terça-feira, 24 de abril de 2007

Sobre a condição feminina

As mulheres são seres complexos que habitam este pequeno mundo. Não, minto. São os seres mais complexados que aqui andam. Se a palavra “Juíza” não existisse, e o feminino de “Juiz” fosse simplesmente “Juiz”. Se para me referir a uma Juiz fêmea, devêssemos dizer “a Juiz”. Nesse caso, teria dificuldades em perceber porque que não assistiríamos a manifestações de rua e mobilizações em massa pelo devido feminino. Eu própria estaria na rua batendo-me pelo meu direito a chamar e ser chamada de “Juíza” (fora-o eu). Mas a palavra, felizmente, existe. “Juíza”, “JUÍZA”, a feminina fêmea que aplica a lei, la bouche qui prononce les paroles de la loi. Assim, porquê? Por que alma penada veraneando no purgatório é que cada vez que se envia uma peça processual dirigida à Exma. Senhora Juíza de Direito, a mesma corrige a dita, com o atrevido lápis razorando o assento e cortando a letra definidora do seu e do meu género?

A verdade é que se tornou sinal de complexo de inferioridade uma mulher fazer referência a qualquer desigualdade ou reivindicar qualquer diferenciação positiva em prol da igualdade. A verdade é que o novo discurso da mulher descomplexada que vence no mundo dos homens sem aceitar nem sequer admitir sem conceder que a desigualdade possa existir, admitindo cortesias que de subjugantes passaram a gentilezas que condescentemente se toleram e, por ventura, exigem, nos transformou em perfeitas complexadas.

Nada de exageros. A mulher des(complexada) sabe nada lhe estará vedado por conta do A. Ainda assim, deveria, pelo menos, admitir que o A lhe pode tornar a vida um nadinha mais difícil e interrogar-se porque é que na faculdade integrava uma estatística 85% e no escritório (na base da cadeia alimentar) integra uma de 60%; porque é que, se chegar ao topo, a estatística que a englobará será de 20%.

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