sexta-feira, 13 de abril de 2007

acórdeão

O estatuto de gentleman reside, em grande medida, na capacidade de gerir conversas habilmente. Um gentleman precisa de compreender a dinâmica própria das conversas de circunstância. Manipulá-las como um acórdeão, uma metáfora assim (a minha capacidade de criar metáforas é miserável, razão pela qual nunca me admitiriam no bloco de esquerda), obedecendo à seguinte matriz:
quanto maior o afastamento entre os interlocutores, mais generalista o tema (paradigma: o tempo)
quanto maior a proximidade, mais específico o objecto de conversa (paradigma: penugem)

Vejamos exemplos.

- Olha o Pedro, já não te via há uns tempos. O que é que tens feito? Sempre foste para medicina?
(Aqui cumpre expandir o acórdeão, de modo a atirar o interlocutor para lá de Andorra)
- Era mesmo para ter ido, mas depois parece que se pôs uma aragem.

Em sentido inverso:

- A sério, Pedro, hoje estiveste óptimo. Hoje, quer dizer, tu ÉS óptimo.
(Contrair o acórdeão)
- Ora essa, eu é que te agradeço pelo look pré-adolescente com que me brindaste.

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